A viagem não acaba nunca.
Só os viajantes
acabam.
E mesmo estes podem prolongar-se em
memória,
em lembrança, em narrativa.
Quando o visitante sentou na areia da
praia e disse:
“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim.
O fim de uma viagem é apenas o começo de
outra.
É preciso ver o que não foi visto, ver
outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão,
ver de dia o que se viu de noite,
com o sol onde primeiramente a chuva
caía,
ver a seara verde, o fruto maduro,
a
pedra que mudou de lugar,
a sombra que aqui não estava.
É preciso voltar aos passos que foram
dados,
para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles.
É preciso recomeçar a viagem. Sempre.
(José Saramago)
Crédito Fotográfico: Fernando Deeke Sasse
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